sábado, dezembro 25, 2010

Entrevista: Organizadores de Evento

Desde que eu me entendo por jogador de RPG, acho que nunca vi uma entrevista tão interessante: o Igor e o João, os organizadores do Quero Jogar RPG BH, que mantém acesa a chama dos eventos aqui em Beozonte, deram uma pequena entrevista ao site RPGames Brasil. Em tal entrevista, eles falam um pouco de sua formação como jogadores de RPG, dos primeiros eventos que ajudaram a organizar, das características do QJRPG BH e de outros assuntos interessantes. Eles até citam o meu nome!

Enfim, achei ótima a iniciativa das entrevistas, e espero que não pare por aí... temos outras pessoas, como o Kender e o Tio Nitro, que sempre dão apoio aos eventos, ainda que discretamente, e que nunca aparecem tanto quanto mereceriam/deveriam. O 9º Quero Jogar RPG BH foi um ótimo exemplo disso: demos de cara com uma loja fechada (falha de comunicação, pois parece que ela reabriu na segunda feira), e peregrinamos pela Savassi em busca de outro lugar... um verdadeiro live action de Dark Sun, dado o sol que fazia naquele dia... batemos nas portas do McDonald's, fomos dispensados... batemos na porta de uma livraria, fomos dispensados... o evento parecia condenado a não acontecer, quando o Kender chegou e, gentilmente, foi avisado de que o evento seria na loja dele. Ainda bem que ele estava com as chaves no bolso!

Então, agora é esperar pelas próximas entrevistas... inclusive com o pessoal do Sétima Armada! Bora gente, tem muito a se dizer das aventuras aventureiras dos organizadores de RPG aqui em Beozonte, o "túmulo do RPG", como dizem por aí...

E.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Sobre os Títulos dos Anos 1959 a 1970

Taça de Prata, Torneio Rio-São Paulo, Taça Brasil, Roberto Gomes Pedrosa... o que é o quê, afinal de contas?

Bom, vamos por partes.

O Brasil, em termos de futebol, sempre foi uma panelinha de cariocas e paulistas, que mantiveram, por décadas e na base da empáfia, o monopólio do que é que seriam os times "representativos do futebol brasileiro". Enquanto nossos vizinhos Argentina e Paraguai tem torneio internacional deeeeesde 1905, com uma Copa entre os dois melhores times de cada país a cada ano, o Brasil nunca teve o interesse de realizar um torneio/campeonato/copa para integralizar o futebol no país. A seleção nacional era formada por jogadores que atuavam no Rio ou em São Paulo, ponto. E, nas histórias registradas de vários times, há artilheiros e jogadores de muito destaque registrados em torneios estaduais, mas nunca atuaram pela seleção. Simplesmente porque não atuavam no eixo RJ-SP.

Daí, em meados da década de 1950, após a Copa do Mundo no Brasil, que impulsionou o futebol em muitos estados do país, a Conmebol resolveu realizar um torneio de times sul-americanos. Cada país deveria enviar seus representantes, e o único quesito era o de que "todas as regiões" de cada país participassem (ou tivessem a chance de participar) da competição que garantisse o acesso,  e consagrasse um campeão nacional. O primeiro torneio seletivo deveria ocorrer em 1959, pois a primeira Libertadores da América ocorreria em 1960.

Essa foi a razão de criação do primeiro torneio autenticamente nacional, a Taça Brasil. Ainda assim, como já tínhamos o Torneio Rio-São Paulo estabelecido, a CBD (precursora da CBF) resolveu que os times desse torneio não precisavam entrar nas fases iniciais do torneio, mas apenas em seu final. Mais ou menos como a Copa do Brasil nos dias de hoje, só que com um pouco mais de empáfia e favorecimento.

Os únicos times que ganharam a Taça Brasil passando por todas as fases do torneio foram: Bahia (1959) e Cruzeiro (1966), ambos vencendo o Santos no jogo final. Em todas as vezes em que o Santos ganhou os títulos (1961, 62, 63, 64, 65) o time entrou direto na fase semifinal. Outros times, também campeões, como Palmeiras e Botafogo, entraram nas quartas de final. Tudo isso, devido ao favorecimento do Torneio Rio-São Paulo.

Nesse final de 2010, discute-se a equivalência dos títulos da Taça Brasil com o Campeonato Brasileiro. Eu, cruzeirense que sou, considero tal equivalência como um desmerecimento à Taça Brasil. Explico.

Da origem do futebol no Brasil, até 1966, a empáfia do Rio-São Paulo imperou nesse país, e apesar de o Santos ter perdido o título para o Bahia em 1959, o grande tapa de luvas foi o título do Cruzeiro, em 1966, não apenas porque destronou um time já consagrado mundialmente, mas porque foi uma vitória incontestável, com um 6 a 2 no primeiro jogo, e uma virada histórica, 3 a 2, no jogo de volta, na casa dos paulistas. Não havia mais como dizer que o Rio-São Paulo englobava os times "representativos do futebol brasileiro", pois o Cruzeiro (e muitos outros dignos representantes do nosso futebol) não atuavam nesse campeonato. Algo precisava ser feito.

No ano seguinte, 1967, o Torneio Rio-São Paulo deixou de contar apenas com times do "eixo do mal", passando a contar com times de MG, RS e PR e passou a se chamar Roberto Gomes Pedrosa (Taça de Prata). Em 1968, incluiram-se dois times do Nordeste (um da BA e outro de PE). A Taça Brasil ainda seria disputada concomitantemente, em 67 e em 68, sendo extinta em 1969, permanecendo portanto a Taça de Prata como único torneio nacional. Esse torneio, constituído pelos campeões e vices de vários estados (ainda com um favorecimento aos times do "eixo do mal", que incluíam 4 ou 5 participantes cada) evoluiu e, em 1971, tornou-se o Campeonato Brasileiro, que contou com 20 clubes de 8 estados diferentes.

Portanto, goste a maioria ou não, a Taça Brasil não era um campeonato brasileiro, apesar de ser um campeonato nacional. Dentre outras coisas, ela simplesmente mimetizava uma competição nacional, pois era disputada em chaves regionais: norte, nordeste, centro e sul. Ela era apenas um pretexto, um álibi, para que os times de SP e RJ tivessem acesso "garantido" à Copa Libertadores, e é por isso que os times campeões do Rio-São Paulo tinham acesso à competição já nas quartas de final. PORÉM, os títulos de Bahia e Cruzeiro, especialmente desse último, ajudaram a derrubar esse torneio viciado, e garantir ao nosso futebol um firme passo evolutivo: um campeonato onde não haveria favorecimento, ou pelo menos onde este favorecimento seria atenuado em muito. E é por aqueles 6 a 2 no Mineirão e aqueles 3 a 2 no Pacaembu que, hoje, nós temos um futebol com um tantinho menos de empáfia, com uma estrutura em divisões, onde é possível o acesso e o descenso de quaisquer participantes, de qualquer região do Brasil. Sem prejuízo a quem quer que seja.

Diz a lenda que Leônidas segurou os persas nas Termópilas por três dias, e por isso o mundo teve a oportunidade de conhecer a filosofia da Grécia antiga. Da mesma forma, Aníbal derrotou o Império Romano e, por decidir esperar um único dia, não conquistou a cidade (e o Império) em nome de Cartago, e apenas por isso nós sabemos tudo sobre o Império Romano e nada sobre o Império Cartaginês. Similarmente, em cento e oitenta minutos, o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes derrotou o Santos de Pelé e Coutinho, ergueu a taça e demonstrou, para que todos vissem, o passo inexorável do futebol brasileiro em direção a um futuro mais integrado.

Portanto, não me diga que a Taça Brasil de 1966 vale o mesmo que um Campeonato Brasileiro desses aí. Ela vale mais. Muito mais. Até mesmo para quem não é cruzeirense.

E.

domingo, dezembro 05, 2010

Cruzeiro 2 x 1 Palmeiras

Dia 5 de dezembro de 2010. Domingo. Duas horas da tarde. Saio de casa, vou ao ponto de ônibus. Chego ao centro da cidade em menos de 50 minutos, ando até à rodoviária... pego o Setelagoano saindo da plataforma:


Pago a passagem, coisa de 16 reais. Distraído, entrego duas notas de vinte ao cobrador; ele percebe meu engano e devolve-me a nota extra. Anota o troco da minha passagem, no verso, pois é a sua primeira viagem do dia e ele veio sem nada.

A viagem até Sete Lagoas transcorre sem maiores problemas, sem engarrafamento, sem nada. A maioria das pessoas certamente não está indo para o jogo, e portanto há uma calmaria dentro do ônibus. A maioria dorme.

Desço na rodoviária por volta das 16:15. Pego meu troco, e caio no engano de comprar um suco enlatado ali mesmo... quatro reais. E nem estava tão gelado assim. Ou será que é o calor que está demais?

Saio da rodoviária. Pego um ônibus (Novo Progresso, se não me engano). Pago os dois reais e cinco centavos de passagem... ele perambula por uns dois ou três bairros antes de chegar ao estádio, que fica fora da cidade. Até então, vejo pouco movimento de torcida (dentro do ônibus, apenas eu e mais dois). Só ao chegar na avenida próxima à parada, é que vejo a movimentação de pessoas:


Ando um pouco, e já avisto a entrada do estádio:


Nessa hora, aproximadamente quatro e meia, o calor era tremendo. Pior ainda, a fila para entrar era enorme. E debaixo do sol. Bom brasileiro que sou, entrei logo na fila... e nem me dei conta de que o estádio tem mais de um portão! Para a minha sorte, meu ingresso era dali mesmo, portão 2... mas, já pensou?

Muito se reclama das torcidas organizadas, mas pouco se fala da desorganização geral dos realizadores do evento. Exemplo: havia guichês separados para quem era estudante... só que isso não era sinalizado em local algum, e todas as pessoas acabavam entrando nas mesmas duas filas que se formavam. Acabava que, quando o indivíduo entregava os documentos para o fiscal conferir, ele repetia o mantra "seu guichê não é este, é ao lado". Sim, ótima receita para criar confusão: deixa o cidadão plantado debaixo de um sol de trinta e cinco graus Celsius, por meia hora, e só então avisa a ele que não é ali que ele deveria estar. Fora isso, quando o jogo iniciou-se (sim, eu perdi o início da partida, e sim, levei mais de meia hora para entrar), a polícia anunciava, aos berros, que um novo guichê fora aberto ao lado. Foi o suficiente para provocar correrias entre os torcedores que se encontravam no final das filas. Daquilo para um arrastão, pouco faltava.

Enfim, consegui entrar, e ver como era esse estádio por dentro:


A torcida estava mais preocupada com os jogos dos adversários que com a partida que presenciavam ao vivo. Tanto é que só teve grito empolgado depois que o Goiás fez 1 a 0 no Corinthians.


O jogo foi bom para destacar o quanto o Gilberto é melhor que o Roger, o quanto o Rômulo é limitado, o quanto o Cruzeiro precisa de um centroavante e o quanto o Montillo é o cara... ele joga muito, correu o campo todo, até o final do segundo tempo... mesmo com o Palmeiras abrindo o placar, mesmo com o festival de gols perdidos pelo Cruzeiro, mesmo com o calor e a péssima estrutura de banheiros e de bares do estádio (treze conto num tropeiro + refri!), com tudo isso, o jogo valeu, pois o time correu o tempo todo. E, no fim, restou à torcida festejar novamente.


Temeroso em refazer todo o percurso estádio-rodoviária-belo horizonte, procurei por uma carona dali para casa... não consegui, mas o transporte clandestino que nunca nos falta acabou por oferecer uma alternativa razoável, e eu voltei, dentro de uma van, com um monte de gente conformada com a perda do título, e feliz da vida por ter retirado o Corinthians da vice-liderança (além de conquistar a vaga na fase de grupos da Libertadores, o Cruzeiro abocanhou um milhão de reais a mais na premiação do campeonato por ter tomado a segunda colocação dos paulistas). Daí foi voltar a BH, já no escuro.


Daí, descemos na rodoviária, peguei meu ônibus de volta para casa, e aqui estou.

Agora, com licença, mas eu tenho muuuuuita Geologia Econômica para estudar...

E.