sexta-feira, dezembro 27, 2013

Resultados do Futebol de Resultados

Hoje, dia 27 de dezembro de 2013, o Campeonato Brasileiro ainda não acabou. Já sabemos quem foi o campeão - deeeeesde outubro, convenhamos - e também quem serão os outros 5 brasileiros na Libertadores'14. Também temos uma boa ideia sobre quem estará na Série A... e há, é claro, a situação da Portuguesa de Desportos. Não entrarei em detalhes sobre o assunto, mas o fato é que, apesar de não haver mais jogos a se disputar, ainda não temos os 4 rebaixados para 2014. É, sim, já sabemos quem serão os 4 que subirão, mas e os que cairão? Sem chances. Só o STJD decidirá o resultado disso. O resultado emergirá do tribunal, o mesmo tribunal que disse, em 2010, que o Fluminense era o Campeão, com jogador irregular e tudo, e que o resultado construído em campo não poderia ser revertido fora dele. Passaram-se 3 anos e o mesmo Fluminense, aparentemente, terá o resultado construído em campo revertido em seu benefício, evitando o rebaixamento. O resultado disso é que, mais uma vez, mostra-se que há sim vários pesos para a mesmíssima medida no nosso futebol.

Mas eu não quero falar da manchinha preta no terno branco.

Eu quero, primeiramente, agradecer pelo ano de 2013, que foi o melhor ano da minha vida. Tanto mais por ter visto o meu querido Cruzeiro campeão brasileiro - conquistando o sétimo título nacional - e por ver o Atlético-MG campeão da Libertadores. Não, não me dói reconhecer méritos do adversário, simplesmente porque a rivalidade entre Raposa e Galo é estritamente estadual: Cruzeiro e Atlético-MG nunca decidiram nada no Mundial, por razões óbvias. Também nunca se enfrentaram pela Libertadores da América, em todos esses 50 e tantos anos de competição. Na Copa do Brasil, mesmo o Cruzeiro possuindo 4 títulos e o Atlético-MG tendo participado de todas as edições - exceto a de 2013 - eles também nunca se viram. No Brasileirão há apenas 1 jogo que valeu alguma coisa em todas essas décadas: aquele que o Cruzeiro ganhou por 6 a 1 do Atlético-MG e evitou o rebaixamento. E é só. Nem pela Sul-Minas, nem pela Copa Centro-Oeste, nem na época de Supercopa e Conmebol, nem na Recopa... Cruzeiro e Atlético-MG só se dobram no estadual. E, como na minha opinião a rivalidade é exercida fundamentalmente DENTRO DE CAMPO, não há razão para dizer nada a respeito do que o Atlético-MG faça além do âmbito regional... até porque, sejamos francos, ele nunca faz muita coisa, de bom ou de ruim. E a Libertadores de 2013 é a exceção que comprova a regra.

Porém, é normal que se estranhe um cruzeirense dizer que "ficou feliz" com o resultado positivo do rival estadual. Em princípio, é realmente um pouco estranho. Mas quando digo isso estou dizendo com olhos no futuro: o resultado deles em 2013 implica em um possível - e inédito - embate entre Cruzeiro e Atlético-MG na Libertadores em 2014. Não é certeza, não está garantido, mas pode ser que ocorra! E, a partir daí, após tantas décadas, Cruzeiro e Atlético-MG serão rivais em algo mais que o estadual, o que seria um ótimo desdobramento para o futebol mineiro, qualquer que seja o resultado do eventual confronto. Ganham todos, com uma rivalidade levada a um aspecto internacional, ou quem sabe nacional... caso os dois times voltem a brigar pelas primeiras posições em 2014 também no Brasileirão.

Esse distanciamento, essa posição (quase) neutra diante do resultado deles não é algo fácil de se manter. Primeiramente, porque tenho dois irmãos, ambos atleticanos, com (contra?) quem sempre discuto sobre futebol, o que nunca termina bem. Meus pais, que já cresceram o suficiente para perceber a tolice que é discutir como discutimos, ainda nos chamam a atenção, dizendo para "pararmos com esse fanatismo". Creio que em muitos outros lares seja assim. Não creio ser um fanático, mas o resultado é que monopolizamos a ceia de Natal, a mesa do churrasco, a frente da geladeira, o intervalo comercial do filme, sempre aos berros, sem realmente ouvir o que o outro está dizendo. Vergonhoso. Ainda mais para mim, já que eles são dois... provavelmente eu grito o dobro. Mas, de resto, tento sim entender que o futebol de paixões já acabou faz tempo... hoje, temos apenas o futebol de resultados. Resultados financeiros, para que fique bem claro. Nunca me esquecerei da charge sobre a final da Libertadores 2009, quando o Cruzeiro perdeu para o Estudiantes... perante uma renda de R$2.000.000,00 (não, não importa mais o público). A charge, então, mostrava um repórter fazendo uma pergunta ao então Presidente do Cruzeiro, e este, de costas ao repórter, abraçado a um saco de dinheiro do tamanho de um mamute, todo cheio de amores. E feliz.

Então, hoje, quando vejo um time como o Cruzeiro ganhar o Brasileirão jogando o bom futebol, ao passo em que o Fluminense se escora em resultados financeiros e favorecimentos variados para permanecer na Série A, eu vejo que as rivalidades são bem outras. Não me importo mesmo com o que o Atlético-MG ganhe ou deixe de ganhar, perca ou deixe de perder. A exceção, óbvia, é quando essas derrotas ou conquistas afetarem o meu time do coração, o que nunca aconteceu fora do Campeonato Mineiro, afora 3 ou 4 exceções, ou quando as coisas começarem a se decidir FORA DO CAMPO.

Também não me apego, não crio vínculo afetivo (de amor ou de ódio, ou do que quer que seja) com esse ou aquele jogador, treinador, presidente de clube ou torcida organizada, porque essas pessoas, todas elas, não estão atrás de resultados esportivos, e sim de resultados financeiros. Exceções existem, e portanto são tratadas como tal. Como não virar fã de jogadores como Sorín e Fábio, só para citar dois, que criaram um vínculo mais que profissional com o Cruzeiro, a ponto de serem admirados até pelos rivais? Como esbravejar contra o Cuca ou quem quer que seja, por ter ido embora pelo dinheiro que foi? São, todos os três, pessoas que vieram, viram e venceram. Entregaram o resultado mais que esperado, e que merecem o respeito de todos. Profissionais do futebol de resultados, que é o único futebol em que eles puderam trabalhar.

E,