sábado, agosto 15, 2009

Relançamento de Dark Sun

Fiquei sabendo, nessa semana, que a "HasbeenBro" vai lançar uma nova versão de Dark Sun, ou, nos dizeres modernos "atualizar o cenário de campanha para as novas regras". Até aí, nada de mais: ela é dona da WotC, detém os direitos da coisa toda, está mais é certa de querer ganhar uma grana.

Eu fico aqui pensando é em nós, jogadores e mestres de RPG.

Existem no mercado dois tipos de jogadores de RPG: os que eram RPGistas na década de 1990 e os que não eram. Dos que eram, alguns jogaram em Dark Sun, outros não (eu faço parte do segundo grupo).

Os que jogaram tiveram acesso a material durante 7 anos (1991-1997), nos quais foram publicados 30 títulos (ou um produto a cada três meses), sendo um deles uma revisão da caixa básica. Nos termos de hoje, é muito material, muito conteúdo, muita caracterização para um cenário que era apenas alternativo (Forgotten Realms teve mais de 100 títulos publicados em AD&D), mas era o padrão da TSR. Dizem por aí que foi por isto que ela faliu: muitos produtos, muitas opções para um mercado realmente restrito. Mas chega de falar da TSR, estou tentando falar da nova edição de Dark Sun.

Em 10 anos de "novos donos", tivemos duas edições de regras para D&D e 1 cenário realmente inventado (Eberron). Todo o resto foram atualizações de cenários antigos, remakes de aventuras antigas, etc. Forgotten Realms, Ravenloft, Greyhawk, todos eles são anteriores à terceira edição... suas atualizações, em vários termos, foram pálidas imitações do que já existia (exceto, talvez, o FR da 3D&D), e deixaram a dever não só em números de lançamentos (como era de se esperar), mas contaram com requintes como avanços de linha de tempo que mataram muitas campanhas paralisadas pela troca de edições, e que poderiam novamente florescer...

E, agora, temos a chegada de Dark Sun.

Embora eu nunca tenha jogado, eu li Dark Sun há uns 6 anos atrás. E, desde 1997, eu conheço um grupo de pessoas que só jogava nesse cenário (eles pararam de jogar em 2000, com a chegada da 3.0D&D). Então, eu posso não saber muito sobre o mundo de Athas, mas eu sei que ele é beeeem diferente do mundo padrão "fantasia medieval heroica". Mystara, Forgotten, Greyhawk e outros são "variações dentro de um mesmo tema"; Ravenloft é um outro tema; Dark Sun? Dark Sun nem parece AD&D.

Nesse "mundo Mad Max", você não é o heroi... se o for, é melhor escondê-lo muito bem. Porque o seu maior problema não é salvar os outros, e sim manter-se vivo. Sobreviver é a meta de qualquer dia, e é sempre (SEMPRE) pela lei do mais forte. Não há realmente uma perversidade latente, mas sim um sentimento de vulnerabilidade difícil de se dissipar. Aqui, a magia arcana cria problemas imediatos, visíveis e, por vezes, que te mordem a mão fora.

Disso tudo, eu me lembro do prazer de uma boa leitura, e da saudade de nunca ter jogado. Tenho os livros, mas não tenho o grupo: é o tipo de coisa que seria melhor jogar com pessoas daquela geração. Por quê? Porque foi feito, criado, sonhado para aquelas pessoas: para quem nasceu naquela época, para os jogadores acostumados a esquivar seus personagens das perversidades de mestres de jogo que só queriam seu sangue e/ou suas lágrimas, para quem jogou as duas primeiras versões de Warcraft no PC (não tentem!), enfim, para quem vivia desafios (imaginários) onde você SEMPRE estava em uma posição de desvantagem: Dark Sun foi um desafio imaginado para quem já vivia esse tipo de situação, onde o mínimo de recursos é considerado um tesouro e só o fato de seu equipamento estar completo, uma bênção. Hoje em dia? Hoje em dia as pessoas inteligentes que eu conheço criam regras alternativas para as benesses que uma boa noite de sono proporciona aos personagens. Com todo o respeito, são dois mundos apartados.

Então, em suma, odiei saber que a Hasbeen continua nessa onda nostálgica, de manter-se curvada sobre o legado da TSR e não largar mão dele. Dark Sun é ótimo, mas foi cancelado há 12 anos atrás, quando o mundo (real) era outro, o sistema de regras era outro, a realidade era outra (ainda não havia acontecido o 11 de Setembro, por exemplo). Estamos em um novo mundo (para o bem ou para o mal), merecemos outros cenários de campanha, e não imitações do que era bom (ou até mesmo ótimo, primoroso) há 12 anos. Dark Sun teve seus dias de glória, é a hora de cedermos o espaço para outros cenários.

E.

domingo, agosto 02, 2009

O Mercado das Coisas Grátis, A Janela de Transferências e a Saudade das Tardes de Domingo

Comecei o dia lendo a coluna de Elio Gaspari, como sempre faço aos domingos. O assunto, hoje, é a expansão dos produtos e serviços oferecidos gratuitamente e/ou a preço de banana.

O enredo passou, é claro, pelo Google, esse site que todos acessamos 10 a 12 vezes por dia, ou mais. Esse blog, por exemplo, eu acesso por uma conta de e-mail do google, assim como é no meu orkut e, creio, no meu twitter. A Google é uma empresa avaliada em US$20 bilhões, ou, como eu gosto de escrever, US$20.000.000.000,00. É um valor superior à soma dos valores das montadoras de veículos e companhias aéreas dos EUA, tudo segundo essa coluna de hoje.

Fiquei sabendo, ainda, que um transistor custa US$0,000015 dólares. Ou seja, compro um, e recebo outros 1.000 de troco. Situações de um mundo industrializado eficientilíssimo, talvez associado ao trabalho (escravo) infantil. Oh, bem... continuemos.

Tudo isso está em um livro, chamado "Free - O Futuro de um Preço Radical", que na versão original (nos EUA) teve um período de downloads grauitos, e agora é vendido a US$27,00 ( o download pode ser feito por US$10,00). Como vocês devem ter percebido pelo título, o livro será lançado no Brasil, e aí acabou a nossa alegria: não terá versão gratuita, nem mesmo será disponibilizado para download. Nas livrarias, chegará por R$59,90.

Tudo isso me fez pensar não apenas nas barreiras que enfrenta-se para divulgar/popularizar/desdemonizar o RPG no nosso país, mas nos números que podem (e são) dados a essa situação.

Será que alguém, no Brasil, que não saiba nada sobre RPG, compraria um livro explicando a coisa toda por US$0,000015?

Será que conseguiríamos vender um livro por US$27,00 após colocá-lo gratuitamente para download? Será que conseguiríamos vender o download desse livro por US$10,00 após o período de dowload grauito?

Será que algum dia o mercado de RPG brasileiro movimentará US$20.000.000.000,00?

Todas essas questões, presumo, apontam para um singelo e redondo "não". Porém, parado eu não gosto de ficar, nem mesmo quando as coisas estão indo bem (e, acredite, elas não estão). Temos sim uma base de pessoas na internet que, ao que parece, se interessa em movimentar as coisas, elevar o nível das conversas, propor novos cenários/aventuras/sistemas... mas que simplesmente não sabem como fazê-lo. Eu, por exemplo, não sei. Nah, melhor ainda: eu não tenho a menor ideia.

Passando para a segunda etapa do raciocínio: começou aquela famigerada janela de transferências para o meracado europeu do futebol... é quando vemos nossos (?) melhores atletas irem embora dos principais clubes do Brasil. Saem dos clubes mais ricos do país do futebol, e ingressam no futebol de qualquer país que lhes pague fortunas. Eu vi inclusive a citação de uma charge fabulosa a esse respeito, nesse fórum aqui. Será que a mesma coisa aconteceria com o RPG?

Suponhamos que um de nós, autores ilusórios, um belo dia criemos algo realmente *cativante*. Algo tão bom que chegue a alcançar sucesso internacional. Pode ser um sistema de regras, uma ambientação, sei lá, alguma coisa que leve o público a realmente acordar para o RPG, expandindo em muito o nosso mercado, etc. Quanto tempo até alguém de fora jogar os dólares na nossa cabeça e nos levar embora? Quanto tempo até sermos contratados para a equipe criadora da "nova edição" da Hasbro ou da WW? Quanto tempo duraríamos aqui?

Hmmm, saudades da época em que eu tinha apenas que criar uma masmorra dessas aí, encher de orcs e armadilhas (mais um cubo gelatinoso) e chamar meus amigos para nos divertirmos... agora, tem de pensar em dinheiro, verba, apresentação do conteúdo (demorei a aprender a fazer mapas em papel quadriculado, imagine só!), texto decodificado... quando foi que se divertir passou a custar tanto???

E.